OS TRABALHADORES

Poema de Rogaciano Leite gravado em um monumento na Praça Vermelha de Moscou, onde o poeta esteve em 1968.
Uma língua de fumo, enorme, bandoleante,
Vai lambendo o infinito – espessas e fatigada…
É a fumaça que sai da chaminé bronzeada
E se condensa em nuvens pelo espaço adiante!
Dir-se-ia uma serpente de inflamada fronte
Que assomando ao covil, ameaçadora e turva,
E subindo… e subindo…assim, de curva em curva,
Fosse enrolar a cauda ao dorso do horizonte!
Mas, não! É a chaminé da fábrica do outeiro
– Esse enorme charuto que a amplidão bafora -
Que vai gerando monstros pelo céu afora,
Cobrindo de fumaça aquele bairro inteiro.

Cante Lá Que Eu Canto Cá

A arte de Patativa do Assaré


Poeta, cantô de rua, 
Que na cidade nasceu, 
Cante a cidade que é sua, 
Que eu canto o sertão que é meu. 

Se aí você teve estudo, 

Aqui, Deus me ensinou tudo, 
Sem de livro precisá 
Por favô, não mêxa aqui, 
Que eu também não mexo aí, 
Cante lá, que eu canto cá. 

Você teve inducação, 
Aprendeu munta ciença, 
Mas das coisa do sertão 
Não tem boa esperiença. 
Nunca fez uma paioça, 
Nunca trabaiou na roça, 
Não pode conhecê bem, 
Pois nesta penosa vida, 
Só quem provou da comida 
Sabe o gosto que ela tem. 


GENOCÍDIO EM CAMPO SANTO...

Do Livro Casebres, Castelos e Catedrais, de Nenem Patriota.

São dois povos divididos
Em seus opostos destinos
As raízes são as mesmas
Pois são “univitelinos”
Palestina e Israel
Em conflitos assassinos
Com ódio, rancor e mágoa
Cometendo atos ferinos
Dizimando os inocentes
Desde idosos a meninos
Nas terras santas, sagradas
De sonhos tão genuínos
Dos profetas, do Messias
De apóstolos peregrinos
Plantaram campo de guerra
Dos mais tristes desatinos

Aos Estudantes

Do livro Carne e Alma, do Poeta Rogaciano Leite. Poema datado de 1945.

Dos estaleiros do sonho
De nossa grande Nação
Ao mar de novas conquistas
Se lança uma geração...
O mar - é o futuro imenso
Em cujas águas suspenso
Tremula um mastro - o ideal;
A bandeira - é a Mocidade,
O destino - é a liberdade
E o Brasil - é o seu fanal!

Jovens, que sois os rebentos
Da raça de mil heróis,
O céu de uma pátria livre
Enchei de formosos sóis!
Atentos, para a defesa...
Paz! Virtude! Amor! Grandeza!
Que é desgraça esmorecer!
Do livro as folhas sagradas
São asas e luz, doiradas,
Voando para o saber!

Aos Críticos

Uma obra prima de Rogaciano Leite!


Senhores críticos, basta!
Deixai-me passar sem pejo
Que o trovador sertanejo
Vem seu “pinho” dedilhar...
Eu sou da terra onde as almas
São todas de cantadores
– Sou do Pajeú das Flores
Tenho razão de cantar!

Não sou um Manuel Bandeira,
Drummond, nem Jorge de Lima;
Não espereis obra prima
Deste matuto plebeu!
Eles cantam suas praias,
Palácios de porcelana,
Eu canto a roça, a cabana,
Canto o sertão... que ele é meu!

A ARTE DE ADMINISTRAR

Declamei uns versos no II Simpósio de Administração da UAST/UFRPE.

A ideia foi do professor Alexsandro Bilar, que promoveu um concurso literário que contemplasse os conhecimentos da Administração e a Arte Literária.


Administrar é arte
decidir, olhar o todo
enxergar no todo a parte
integrar a parte ao todo
ser dinâmico, eficiente.
eficaz e consistente
ter ação e ser denodo

Conhecer dessa ciência
exige sabedoria
atuar com sapiência
cuidar bem da freguesia
fazer custos e balanços
para prover os avanços
na complexa economia

SEMPRE EM FRENTE

Se é o fim um começo 
Que começa um novo fim 
Só o que resta, enfim 
É evitar o tropeço 
Pois o tropeço tem preço 
E quem no fim vai pagar 
É quem o caminho errar 
Na trilha que escolher
Se você não quer sofrer 
Cuidado onde vai pisar 

Não pise em terreno incerto 
Estradas irregulares 
Construa os seus pilares 
Mantenha a fé sempre perto 
Buscar água no deserto 
Só vai quem tiver coragem 
Guiado pela miragem
Da esperança distante 
O prêmio do caminhante 
É aproveitar a viagem

E se essa é sua sina
Fugir dela é tolice
Só não conserve a mesmice
Rompa de vez com a rotina 
Mude as cores da cortina 
Descubra novos caminhos
Desviando dos espinhos 
Comece tudo de novo
Só basta o seu aprôvo
Para buscar novos ninhos 


Andarilho

Os versos que faço retrata o caminho
Que leva no rumo da felicidade
Versejo o amor pra cantar a saudade
E sigo na estrada trovando sozinho
Voando ao longe feito passarinho
Na busca incessante de um novo lugar
Na trilha do vento que canta ao soprar
Em busca de pouso além do horizonte
Bebendo da água que nasce na fonte
Cantando a galope na beira do mar