Por Gilberto Carvalho,
ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, sobre
possíveis manifestações durante a Copa
Uma das maiores paixões do
Brasil é o futebol. Por isso, é natural que a realização da Copa
do Mundo em nosso país desperte fortes emoções. E é com muita
emoção que o significado desse grande evento tem sido analisado.
Infelizmente, porém, tem
faltado informação. É exatamente para levar informações precisas
e ouvir um amplo leque de opiniões que tenho ido, como representante
do governo brasileiro, a todas as cidades-sede para debater com os
representantes dos movimentos sociais a importância e as
repercussões da Copa para o Brasil.
A
"crítica" que mais ouvi até agora é que os gastos do
governo federal com a Copa do Mundo prejudicaram os investimentos do
país em saúde e educação. Entretanto, esse é um mito que não
tem lógica nem fundamento. Não houve gastos do orçamento da União
diretamente com a Copa.
Nos
12 estádios, que custaram R$ 8 bilhões, o governo federal entrou
com R$ 3,9 bilhões de financiamento do BNDES. Mas esses
financiamentos serão pagos. Nas obras ligadas à Copa, realizadas
nas cidades-sedes, o governo investiu R$ 17,6 bilhões,
principalmente nos aeroportos, no transporte público de massa e nas
telecomunicações. E essas obras permanecerão como benefícios
permanentes para nosso país.
Não
dá para aceitar que, por causa desses investimentos, a educação e
a saúde estejam em péssima situação, como dizem alguns críticos
mais exaltados. Em primeiro lugar, porque os R$ 25,6 bilhões gastos
com estádios e obras ligados à Copa, desde 2010, não são
comparáveis aos R$ 825,3 bilhões que o governo federal investiu em
educação e saúde nesse mesmo período.
Em
segundo lugar, porque − ainda que tenhamos muito a melhorar −
esses investimentos têm trazido avanços muito importantes. Na
educação, basta perguntar a quem teve acesso à universidade graças
ao Reuni e ao Prouni, aos milhares de formados pelo Pronatec, aos
alunos de tempo integral do Mais Educação, ou aos jovens que estão
estudando no exterior pelo Ciência Sem Fronteiras.
O
mesmo vale para os milhões de usuários do SUS, o maior sistema
público de saúde do mundo, para os beneficiários das novas UPAS e
para aqueles atendidos pelos mais de 14 mil profissionais contratados
pelo Mais Médicos. Um exemplo importante da melhoria na saúde é o
fato de que nos últimos dez anos o Brasil reduziu em 40% a taxa de
mortalidade infantil.
Ainda
assim, os movimentos sociais querem mais e estão aproveitando a
oportunidade da Copa do Mundo para fazer manifestações e
reivindicações. Esse é o papel deles. E esse também é o
principal significado da Copa: ela traz amplas oportunidades e é uma
conquista para nosso país.
Legado
Não
é por acaso que o Brasil tem hoje uma das menores taxas de
desemprego do planeta. O processo de preparação para a Copa
contribuiu para isso, pois gerou centenas de milhares de novos postos
de trabalho, principalmente nas áreas da construção civil e do
turismo. Segundo a Fundação de Estudos e Pesquisas Econômicas da
USP, só a Copa das Confederações, em 2013, gerou 303 mil empregos.
E a Copa do Mundo como um todo vai gerar três vezes mais,
acrescentando cerca de R$ 30 bilhões ao Produto Interno Bruto (PIB)
brasileiro de 2014.
A
Copa do Mundo também trouxe a possibilidade de ações de inclusão
social e de sustentabilidade ambiental. Serão destinados 50 mil
ingressos gratuitos a beneficiários do Bolsa Família e
representantes dos povos indígenas.
Nas
cidades-sede, haverá coleta seletiva de materiais recicláveis
dentro e fora dos estádios, em parceria com cooperativas de
catadores. O Pronatec Copa está capacitando milhares de
trabalhadores para a recepção aos turistas.
A
previsão, no setor de turismo, é de que se abram cerca de 50 mil
novos empregos no período da Copa, para atender os 600 mil turistas
estrangeiros (o dobro da África do Sul) e os 3 milhões de turistas
brasileiros que vão viajar pelo país para acompanhar os jogos. E a
ampliação do turismo, com a divulgação da imagem do país no
exterior, é um ganho que vai permanecer por muitos anos.
A
Copa só veio para o Brasil, depois de uma grande disputa
internacional, porque antes nós vencemos a batalha contra a miséria
e a batalha da inclusão social. Mas há muitas outras batalhas a
vencer. E estamos dispostos a caminhar juntos nessa perspectiva. O
governo federal não está tomando nenhuma iniciativa para inibir
críticas ou protestos. O Brasil é um país democrático e as
manifestações populares são essenciais para nossa democracia.
Os
turistas que presenciarem essas manifestações durante a Copa vão
testemunhar que o Brasil é um país livre, onde a cidadania se
manifesta, protesta e expressa seus anseios. Nós só temos a
preocupação de que as manifestações, seja em relação à Copa ou
aos temas sociais, ocorram sem violência, a partir de informações
corretas, completas e sem distorções.
Finalmente,
a Copa do Mundo será também uma oportunidade de reflexão, pois o
tema da disputa no Brasil será "Pela paz e contra o racismo".
Em todos os jogos haverá ações nesse sentido. O povo brasileiro
vai receber os turistas com sua alegria e hospitalidade e vai
celebrar a Copa como um momento de festa e congraçamento entre os
países que aqui estarão representados. É assim que vamos fazer a
Copa das Copas.
Fonte: uol