Veja a entrevista que o ex-presidente Lula concedeu ao Jornal do Comércio

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JORNAL DO COMMERCIO – Embora procure preservar sempre a sua figura (Lula), o ex-governador Eduardo Campos definiu o papel dele na atual campanha para presidente: é o anti-PT e não poupa, em nenhum tema abordado, a presidente Dilma Rousseff. Como o Sr. vê essa posição do ex-governador, que é (ou foi) seu amigo particular e participou como ministro do governo do PT?

LULA – Eu sei separar as questões pessoais das questões políticas. O Eduardo é meu amigo e eu já era amigo do seu avô, Miguel Arraes. O que eu lamento é não termos conseguido seguir parceiros nessa caminhada. O Eduardo tem o direito de querer ser candidato, agora, eu acho que a presidenta Dilma é a mais preparada para avançar nas conquistas do País. Creio que o Eduardo não pode exagerar nas críticas, porque ele sabe que é o mesmo projeto, o projeto do qual ele participou, e que tantos avanços trouxe para Pernambuco e o Brasil. O momento internacional é muito difícil, e a presidenta soube conduzir o Brasil nessa conjuntura complicada. Enquanto no mundo, desde 2008, segundo a Organização Internacional do Trabalho, foram destruídos 62 milhões de empregos, no Brasil foram gerados 10 milhões de empregos. E isso não é pouco. A presidenta Dilma tem tido o mérito de atravessar esse período mantendo o emprego e aprofundando as conquistas sociais.

JC – Ainda no seu governo, o Sr. lançou a pedra fundamental de vários projetos estruturadores para a Região, como a Transnordestina, a transposição, refinarias (como a Abreu e Lima, daqui de Pernambuco). Já estamos no final do mandato de sua sucessora e essas intervenções ainda não foram concluídas. O ex-governador Eduardo Campos chegou a dizer que a presidente Dilma “não olhou para o Nordeste”. O Sr. acha que houve um excesso de otimismo ao lançar essas propostas ou foi o governo (seu ou da sua sucessora) que falhou em concretizá-las?

LULA – Eu tenho certeza de que o Estado de Pernambuco nunca recebeu do governo federal a quantidade de investimentos dos últimos 12 anos. E o Eduardo é testemunha disso, pois o avô dele era governador quando o PSDB estava na presidência e o Estado sofreu muito. Se você pegar o meu governo e o governo da presidenta Dilma aqui em Pernambuco, você tem mais de 1,1 milhão de pessoas atendidas pelo Bolsa Família, sete novos Institutos Federais de Educação Tecnológica, cinco campi da UFRPE para as cidades do interior, a instalação da fábrica da Fiat e a própria refinaria de petróleo, que antes não tinha aqui. Eu citei alguns exemplos, mas tem muito mais. A presidenta Dilma tem cuidado com carinho do Nordeste, assim como eu fiz em meu governo. O que você não pode esquecer é que o Brasil estava há quase 30 anos sem fazer projetos estruturantes. E não fazia por causa da dívida, do monitoramento do FMI, que não deixava o governo brasileiro investir em infraestrutura. Nesse período, a capacidade do governo de planejar e executar projetos ficou muito debilitada. Nós retomamos esses projetos importantes e iniciamos essas obras fundamentais, e todos elas estão em andamento e serão concluídas. Hoje, há milhares de trabalhadores nas obras da transposição do São Francisco. Ninguém está contente com a demora e tenha certeza que a presidenta Dilma tem cobrado mais do que ninguém para que as coisas andem o mais rápido possível. Mas o Eduardo sabe das dificuldades dessa obra, porque o ministro responsável era o Fernando Bezerra, do PSB. E tanto o Bezerra quanto o Eduardo sabem do empenho e das dificuldades que a presidenta Dilma tem enfrentado com coragem nessas e em outras obras tão importantes. Fazer uma refinaria em Pernambuco, a Transnordestina, trazer os estaleiros, foram decisões que demandaram muita coragem, porque antes, ou não se fazia grandes projetos como refinarias, ou elas eram todas no Sudeste. A presidenta Dilma trabalhou no PAC, estava na gestão dessas obras e sabe da importância do Nordeste para o País.

JC – O PT começou a inserção da nova série de filmes publicitários onde o vínculo entre o Sr. e a presidente Dilma é reforçado, assim como são reforçados os feitos do governo, na distribuição de renda, na geração de empregos, na inflação e nas conquistas sociais. Tudo isto no lugar de filmes em que se abordava o “medo” e os “fantasmas” do passado, tática da qual o PT (o Sr. em particular) já foi vítima. Foi um erro esse tipo de abordagem e, por isso, esta nova série de inserções?

LULA – A questão não é essa. É lembrar os avanços que conseguimos no Brasil, e que alguns minimizam e que muitos dos que se apresentam hoje como defensores deles, sempre foram contra. Foram contra o Bolsa Família, contra o apoio a agricultura familiar, contra o Prouni, contra as cotas, contra o aumento do salário mínimo. Contra os programas que tiraram 36 milhões de pessoas da extrema miséria, levaram 42 milhões para a classe media e geraram mais de 20 milhões de empregos. O Brasil ainda tem muito o que melhorar? Tem. Mas é importante lembrar o que foi conquistado e que tem gente que se incomoda com a ascensão dos mais pobres. Hoje anda em moda o discurso de que todo esse avanço foi apenas por “esforço próprio”, que o governo não teve papel algum. Mas se fosse apenas isso, porque o povo não se esforçou no governo do PSDB? Claro que o povo se esforçou. O povo se esforça sempre, uma mãe sempre se esforça pelos filhos. Mas não havia oportunidades. A diferença desde 2003 é que o povo, com seu esforço, tem aproveitado as oportunidades dadas pelo governo de melhorar de vida. E hoje, mesmo o jovem da favela pode lutar e fazer uma universidade.

JC – Durante algum tempo se falou em um “plano B” para a a reeleição da presidente Dilma, em caso de problemas no processo, e chegou-se a ensaiar, até com certo volume, pedidos de “Volta, Lula!”. Como o Sr. se sentiu com esse tipo de “conclamação”, sendo a presidente Dilma uma aposta política sua?

LULA – Não existe, nem nunca existiu isso. Desde que a Dilma foi eleita em 2010, é um direito natural dela pleitear a reeleição. E eu vou ser o cabo eleitoral número 1. Onde ela achar importante, eu estarei lá mostrando o que fizemos nesses 12 anos governando o Brasil. Por que temos muito o que mostrar e não temos medo de comparação.

JC - O PT está aliado, na eleição de Pernambuco, com o candidato do PTB, Armando Monteiro Neto. Alguns setores petistas daqui são reticentes em participar da campanha defendendo a candidatura de um “patrão”. Qual será o seu papel na campanha pernambucana, já que se trata da presença mais aguardada no palanque que também terá o petista João Paulo como candidato ao Senado?


LULA - Eu tenho certeza que o Armando Monteiro será capaz de fazer muito por Pernambuco, assim como será um grande ganho para o Brasil e para a presidenta Dilma ter no congresso um senador com a experiência e a competência do João Paulo. Eu vou fazer o que for possível para eleger esses companheiros em Pernambuco. Eu acho que assim como ter preconceito contra um trabalhador é uma bobagem, ter preconceito contra um empresário também é uma bobagem, ainda mais depois do exemplo que foi o companheiro José Alencar na vice-presidência. A pessoa tem que ser julgada pela sua trajetória, pelo seu caráter e comprometimento com um projeto político. E o Armando sabe que um governo tem que olhar para todos, mas ter um carinho especial pelos mais pobres, para quem precisa mais. Ele sabe que ainda é necessário fazer muito para que o povo de Pernambuco avance ainda mais do que já avançou.