A
partir de 2004/05, houve uma grande melhora a favor dos trabalhadores
no perfil distributivo da renda. O Brasil mudou a sua estrutura
econômica. Construiu um enorme mercado de consumo para as massas
trabalhadoras. Mais de 40 milhões de trabalhadores se tornaram
consumidores regulares.
Os
principais responsáveis por essa mudança distributiva e pela
ampliação da democracia econômica foram: o aumento do salário
mínimo e a redução do desemprego. Nos últimos anos, o salário
mínimo foi valorizado em mais de 70% em termos reais e o desemprego
foi reduzido em mais de 50%.
A
elite brasileira não suportou. Seu DNA é de direita e conservador.
Inventaram dois argumentos, um para cada objetivo, mas ambos
conectados na narrativa da oposição – seja aquela representada
pela mídia das famílias (Globo, Veja, Folha de S. Paulo e Estadão),
seja aquela representada pelo seu braço político, os partidos de
oposição (o PSDB e o PSB/Rede).
Para
combater a valorização do salário mínimo, argumentam que estaria
alto demais e que o custo da folha salarial estaria retirando
competitividade da economia, isto é, retiraria capacidade de
investir das empresas. É uma visão interessada e ideológica, não
tem base nas relações econômicas reais e nas experiências
históricas.
Salários
não representam apenas custo, representam principalmente demanda,
capacidade de compra, que é o que estimula o investimento. Sem a
pressão do consumo “batendo na porta” e a tensão da baixa de
estoques, os empresários não investem. Em verdade, o que os
empresários não suportam não é a ausência de possibilidades de
investimento (que, aliás, existem) – de fato, o que a elite não
suporta é enfrentar engarrafamentos onde suas BMW’s ficam paradas
por horas ao lado de milhares de carros populares… ao mesmo tempo,
suas empregadas domésticas viajam no mesmo avião que viajam as
senhoras esposas dos empresários.
Para
combater a redução do desemprego, levantam a bandeira do combate à
inflação, que estaria descontrolada. Argumentam que há muito
consumo e que isso estaria estimulando reajustes de preços.
Novamente, um argumento desconectado da vida real. A inflação de
hoje está no mesmo patamar dos últimos dez anos. Aliás, ao final
de 2013, o Brasil completou a marca de dez anos de inflação dentro
das metas estabelecidas. Querem mais desemprego simplesmente para
colocar os trabalhadores de joelho nas negociações salariais. Esta
é a verdade – nada a ver com combate à inflação.
O
investimento não tem crescido de forma satisfatória devido ao clima
geral de pessimismo econômico criado pela mídia das famílias e por
erros de política econômica cometidos pelo governo. Não tem nada a
ver com o valor do salário mínimo. Aliás, existe financiamento
abundante e com taxas de juros reais irrisórias no BNDES para a
compra de máquinas, equipamentos e construção empresarial. E, para
além disso, a inflação que é moderada está sob controle e tem
sido resultado de pressões que vem basicamente de variações de
preços dos alimentos – decorrentes de choques climáticos. Não há
um excesso de compras generalizado, apesar da democratização do
acesso a bens de consumo.
O
que é cristalino é que as elites (empresarial, banqueira e
midiática) não aceitam que a participação das rendas do trabalho
tenha, nos últimos anos, aumentado tanto na composição do PIB, tal
como mostra o gráfico abaixo. O gráfico é da tese de doutorado de
João Hallak Neto, defendida recentemente no Instituto de Economia da
UFRJ, intitulada A Distribuição Funcional da Renda e a Economia não
Observada no Âmbito do Sistema de Contas Nacionais do Brasil.
A
consequência direta é que a participação no PIB das rendas do
capital tem diminuído. Contudo, devemos reconhecer que o nível de
participação das rendas do trabalho ainda é baixo. Mas o que
assusta a elite é a trajetória constituída a partir de 2004-05.
Assusta sim porque a elite é conservadora e de direita. É de
direita porque quer manter privilégios a partir da concentração da
renda e da injustiça social. A elite também é mentirosa e perigosa
porque inventa argumentos relacionados ao controle da inflação e à
necessidade de estímulo ao crescimento/investimento que não estão
conectados com o que dizem, mas sim com o que sentem: querem a
manutenção do seu poderio econômico e financeiro às custas da
concentração da renda.