Reivindicações ou oportunismo eleitoral: o que motiva a greve da UFRPE em Serra Talhada?

A greve é um instrumento legítimo dos trabalhadores na luta por mais direitos, melhores condições de trabalho e melhores salários. No entanto, se fazer valer da insatisfação da classe trabalhadora para criar um movimento típico de oposicionista em véspera de eleição, é no mínimo inquietante.

Quem participou da assembleia da Unidade Acadêmica da UFRPE de Serra Talhada, no último dia 20 de maio, que reuniu professores, técnicos e estudantes, observou um longo debate sobre a pauta local, que contemplava desde as condições de trabalho, até a infraestrutura e as demandas dos estudantes.


Munido desta pauta reivindicatória elaborada em 2012, a Associação dos Docentes conduziu a reunião se debruçando sobre os pontos levantados pela comunidade que reivindica e cobra da gestão da Universidade Federal Rural de Pernambuco as providências necessárias para que exista, efetivamente, a melhoria na unidade de Serra Talhada. Embalados pelas questões locais, houve uma ampla aceitação da greve, e todos os segmentos, em sua maioria, aderiram a paralisação das atividades.


Mas parece que por trás da cortina existem outras intenções. Levanto essa indagação após ler e reler a entrevista dos representantes das entidades sindicais ao site Farol de Notícias (VEJA AQUI). Durante a entrevista, o representante da Associação dos Docentes concentrou a sua longa fala em atacar o governo federal e o PT. Já o representante dos técnicos, acusou o governo de fazer, em 2003, a reforma da previdência com compra de votos no parlamento, chamado por ele de “mensalão”, saindo do debate propositivo encaminhado pela assembleia, para propagar a guerra eleitoral, motivado, talvez, pela sua relação com partidos de ultra esquerda.

Ora, mas e o debate local? Cadê os mais de sessenta pontos abordados no documento entregue a reitoria? Por que os representantes esqueceram o que foi discutido na assembleia e gastaram toda a entrevista atacando o governo?

Essas perguntas tem que ser respondidas para que o movimento possa seguir com unidade e fortalecido, sobretudo, porque os dirigentes sindicais que estão conduzindo as atividades tem as suas preferências partidárias, o que é legítimo, mas que não pode interferir no movimento, partidarizando a greve e a mobilização da UAST.

Continuo defendendo que façamos as reivindicações a quem quer que seja, mas com respeito e responsabilidade, sem querer fazer ninguém de massa de manobra. É evidente que a educação tem que melhorar, que a saúde tem que melhorar, mas, apresentar números irreais para confundir a comunidade acadêmica e transformar uma pauta local numa batalha contra um governo e um partido, é aparelhar a luta dos trabalhadores em favorecimento de um agrupamento restrito.

Se a intenção dos sindicatos da UFRPE é fazer a comunidade acadêmica de Serra Talhada de bode expiatório, certamente vai enfrentar resistência, pois o que se reivindica aqui no sertão é a melhoria das condições de ensino, pesquisa e extensão, temas que passaram longe dos ataques proferidos pelos sindicalistas. Para não ser injusto, foi informado que existe uma pauta local e que será apresentada a reitoria, só não disseram quais são os pontos da pauta, pouco mais de sessenta, que serão priorizados nas negociações.

Pelo visto há uma gama de interesses nessa greve, e se a comunidade não abrir o olho, perderá inclusive as férias, porque a depender da motivação das entidades sindicais da UFRPE, a razão já está perdida.